ASSOCIAÇÃO DE ARTES CÊNICAS DE
ITAPIPOCA - AARTI
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE
SECRETARIA ESTADUAL DA CULTURA –
SECULT CE
Projeto
pedagógico
Escola
Livre Balé Baião
Apresentação:
Desde 2006 a Cia Balé
Baião de Itapipoca CE por meio da Associação de Artes Cênicas de Itapipoca
(AARTI) vem edificando coletivamente uma experiência pedagógica singular que
prima em desenvolver processos continuados de formação-fruição-compartilha de
artes, especificamente danças cênicas, artes audiovisuais, musicalidades
afro-indígenas e criação literária.
A Balé Baião desenvolve
um trabalho pioneiro de investigação, pesquisa, produção e difusão de danças
cênicas contemporâneas atravessadas por estéticas e narrativas negras, ameríndias
e periféricas, com 27 anos de história. É um coletivo e entidade jurídica
formada por multiartistas e educadores das áreas de dança, audiovisual
(fotografia e vídeo), música, literatura, pedagogia (em sua maioria formados na
Facedi/UECE – campus Itapipoca), arte-educação e ativismo social.
As práticas pedagógicas
da Balé Baião ganham corpo, forma e movimento na Escola livre Balé Baião,
célula de capacitação em danças e linguagens integradas que anualmente oferece
formação técnica em danças cênicas contemporâneas contemplando públicos
diversos de Itapipoca e região. A escola livre nasce do anseio de agregar e
compartilhar experiências técnicas, artísticas e ativistas da Cia Balé Baião
com as novas gerações de artistas e lideranças de grupos, bem como suscitar práticas
da pesquisa, experimentação estética, criação coletiva, protagonismo juvenil,
militância social e empreendedorismo.
A formação oferecida pela
Escola livre Balé Baião é transversal e plural, desde os conteúdos
programáticos até suas estratégias metodológicas. Para além das técnicas
próprias da dança, o curso busca gerar convergências estéticas entre danças e
linguagens afins tais como as artes audiovisuais, a música e a produção
literária. No anseio de potencializar esse perfil multidisciplinar resolvemos
modificar sua nomenclatura para: “CURSO DE
EXTENSÃO EM ARTES DO MOVIMENTO: CORPO, IMAGEM, SOM E PALAVRA”.
O curso se propõe
contribuir com práticas técnicas, estudos teóricos, compartilha de saberes
populares/ancestrais, oficinas de criação e mostras de produções coletivas
voltadas às artes do corpo cênico dançante nas suas diversas possibilidades de
expressão e comunicação, assumindo e afirmando que pelo/para e com o corpo
edifica-se conhecimentos plurais e consequentemente transformações sociais e
planetárias.
Na sua gênese o curso
contemplava exclusivamente jovens residentes dos bairros de Itapipoca, com o
passar dos anos seu raio de atuação passou a ser regional, congregando também
alunes da zona rural e de cidades vizinhas. Atualmente integra jovens e adultos
que atuam nos territórios diversos do Vale do Curu/Litoral Oeste,
especificamente nos bairros Violete, Cruzeiro, Ladeira e Fazendinha, bem como
as comunidades quilombolas de Nazaré (Itapipoca) e Água Preta (Tururu), Sitio
Coqueiros (Assentamento Maceió), Terra Tremembé da Barra do Mundaú (Itapipoca),
e artistas/lideranças de cidades: Trairi, Amontada, Tururu, Uruburetama, dentre
outras.
A Escola Livre Balé Baião
vem possibilitando a vivencia e capacitação artística por um viés
estético-ético e multidisciplinar, favorecendo o debate e análise de temas
emergentes que confluem com as realidades sociais, econômicas, culturais e religiosas
desses agentes culturais nos seus contextos e territórios de atuação, visando
contribuir sobretudo com a formação crítica-comunitária-política e fortalecer o
que já existe e vem sendo produzido por esses jovens e adultos nos seus grupos
e comunidades.
O curso acontece no Ponto de Cultura Galpão da Cena situado no bairro Violete, periferia de Itapipoca, território que revela contextos de luta pela sobrevivência das juventudes, exploração no trabalho, desemprego, omissão e descaso por parte do poder público, evasão escolar, entre outras realidades gritantes que atingem sobretudo às juventudes negras, mulheres e população LGBTQ+. Porém nesse panorama, também habitam, resistem e se reinventam levantes de jovens negros, mulheres, gays, lésbicas, estudantes de escolas públicas, acadêmicos da Facedi/UECE e professores que desejam desenvolver, aprofundar e potencializar suas expressões artísticas, concretizar seus projetos de vida, combater o racismo e o fascismo e nisso, colaborar com as necessárias transformações da sociedade. É nesse panorama de conflitos socioculturais, de esperança e resistência periférica que a Cia Balé Baião habita, interfere e gera em coletivo.
Fundamentações
e cosmopercepções pedagógicas:
Ao longo da história e
atuação da Escola livre Balé Baião, destacam-se diversas referências teóricas
que fundamentam seus fazeres pedagógicos. Para pensar em processos de
ensino-aprendizagem numa perspectiva popular e libertária adota-se Paulo Freire
que propõe uma pedagogia da autonomia (1996)
inserida nos diversos contextos sociais visando estabelecer práticas dialógicas/relacionais
que contribuam com o desenvolvimento de pessoas críticas, participativas,
protagonistas e sujeitas de suas próprias histórias. Isabel Marques e a dança-educação na Linguagem da dança (2010), pensando no corpo como território e/ou
contexto gerador de relações, sentidos, conhecimentos, e consequentemente
gerador de danças singularizadas e coletivizadas, danças que dialoguem,
interajam, interfiram e transformem realidades. Sandra Petit e o referencial
teórico-metodológico chamado Pretagogia (2015), que vislumbra contribuir com a
implementação da Lei 10.639/03 tendo o pertencimento negro, o corpo-dança
afroancestral e a tradição oral africana como principais vias de formação e
empoderamento das professoras e professores. Ruth Cavalcante e Cezar Wagner e a
Educação Biocêntrica (2015) assumindo processos de
ensino-aprendizagem, desenvolvimento onde a vida seja promulgada,
potencializada e defendida enquanto bem maior, tendo na vivência dos vínculos
afetivos o reencontro e reconexão com nossas ancestralidades cósmicas.
Ambos compartilham dos
mesmos princípios éticos-geradores:
1. A
vida é o maior bem;
2. Compomos
uma rede de relações territoriais, planetárias e cósmicas;
3. Reconexão
ancestral no aqui e agora;
4. Arte,
espiritualidade e política não se separam;
5. A
compartilha dos afetos gera ensino e aprendizagem;
6. Não
se transmite conhecimentos, se vivencia;
7. Conhecimento
liberta e transforma;
8. Potência
das singularidades;
9. Políticas
e estéticas do coletivismo;
10. Arte
como testemunho de vida e engajamento;
A Escola Livre Balé Baião se propõe gerar
processos de ensino-aprendizagem vislumbrando a expansão de conhecimentos
ancestrais-afetivos-espirituais-éticos-estéticos. Nessa pretensão, a dança será
consequência do desenvolvimento de corpos/pessoas conscientes, críticas,
solidárias, participativas e propositivas.
A Balé Baião acredita que é
função libertadora da dança suscitar práticas de autonomia e protagonismo dos
corpos singulares para que possam decidir o que querem dançar, como desejam
dançar, para quê dançar, onde dançar e com quem dançar. Defende que é função
educativa/política da dança gerar capacidades e competências que favoreçam a
interação, relação, sociabilização, interferência, discernimento e resiliência
do corpo no mundo. E finalmente, acredita que é tarefa da dança enquanto
conhecimento comunitário, contribuir com a formação de seres sensíveis,
afetuosos, empáticos, generosos e solidários.
Por danças descolonizadas, autônomas
e libertárias
Os processos civilizatórios vêm conduzindo e
adestrando o corpo ao exercício incansável de dominação da natureza, de estar
sempre se superando através de uma conquista admirável ou invenção inédita.
Deixar-se dominar e conduzir, aceitar o desejo e a condução da terra, não como
sina de alienado ou submisso, mas como prática de dialéticas estéticas que
podem dar-se pela escuta atenta, pela atenção e consideração dada ao que a
terra pode e quer dizer, às necessidades que ela desvela no corpo de quem nela
toca, os desafios que ela apresenta para serem enfrentados, os caminhos e
veredas que ela aponta para serem percorridos e refeitos. Na verdade, trata-se
de um exercício de reverência frente à sabedoria ancestral, ao mestre, ao
velho, ao que veio primeiro, ao Orixá que dá permissão de entrar ou sair. A
terra, nessa reflexão estético/performática é o chão comum em que se deita,
senta, “acocora”, bola, rola, rasteja e desliza, mas ao mesmo tempo é o corpo
do outro em que se dança junto, e o próprio tempo do outro em que se dança
junto. A terra é por excelência Território de diálogo por oferecer o jogo, o
risco e o desafio. Escutamos o que ela tem a dizer e com o corpo respondemos
por meio de movimento.
Dentro de uma proposta cênica afroancestral e
indígena o público deixa de ser mero expectador para fazer parte da proposta de
dança que está sendo compartilhada. Para Isabel Marques se faz necessário
romper com as separações entre público e dançarinos e subverter os papeis,
vislumbrando a edificação de verdades cênicas atravessadas pela participação e
interferência na obra:
Assim, o papel de apreciador, que antes era
exclusivo do público, também pode ser compartilhado por coreógrafos e
dançarinos. Por outro lado, o público apreciador, a quem cabia somente o papel
de ‘olhar e ver’, comentar e criticar, vem sendo constantemente chamado a
participar, a dançar. Aqueles que somente assistiam têm hoje o convite e a
oportunidade de (re) criar, interpretar e dançar. (MARQUES, 2010, p.42)
Fazendo contraponto com as expressões dançantes
presentes no Candomblé e na Umbanda, especificamente com as danças dos orixás,
experimenta-se e percebe-se dançares circulares iniciadas, desenvolvidas e
finalizadas em roda, que primam em aproximar olhares, corpos, gestos, canções,
dizeres e ritmos, gerar encontros e diálogos entre corpos, espíritos e
encantados. Há sempre quem comece a performance, seja com um passe, uma
saudação, com um chamamento, com um ponto cantado, no entanto, quem continua e
desenvolve a dança é a roda composta por todos os presentes. Gradativamente se
constrói um corpo cósmico, uno, porém plural, pela unidade das respirações, das
palmas, das batidas de pé no chão, dos giros sincronizados, no compasso dos
tambores e maracás.
Incluir é condição para que a roda seja
desenhada no espaço. Interessa para os espíritos dançantes ancestrais que todos
os corpos estejam dentro da roda sagrada, para isso é necessário estar
disponível ou de “corpo aberto”, sentir-se livre para entrar e sair.
Uma
das principais características que compõem as danças de matrizes
afro-brasileiras e indígenas é o círculo compartilhado, onde todos dançam
observando-se em “pé de igualdade” na diversidade, vibrando de alegria,
lançando e recebendo sorrisos, gerando sons no próprio corpo (batida do pé no
chão e batida de palma com as mãos), liberando sentimentos, emoções e desejos,
que de singulares passam a ser plurais. A roda é o lugar do acolhimento das
danças trazidas por cada dançante. O centro da roda recebe quem deseja entrar
para dançar. Quem dança no centro presenteia os demais com seus encantos
singulares, com seu corpo único e sua dança pessoal. O presente é retribuído
com outra dança ofertada pelo companheiro/a de roda, nisso configura-se laços
de reciprocidade que reacendem valores ancestrais antes imobilizados. O que era
fragmento torna-se um todo e o que era pedaço torna-se um corpo
integral. Dentro de um pensamento africano, tudo que existe interage em um
corpo coletivo, como salienta Eduardo Oliveira:
Na
cosmovisão Africana as coisas não se apresentam separadas. Não há um isolamento
dos elementos, necessitando de especialistas para conhecer suas
características, independente do contexto em que esses elementos se encontram.
Na visão de mundo africana tudo está em tudo, isto é, tudo se complementa. (2006,
p.117).
Assim,
a roda também rompe com a ideia de dança para ser exclusivamente assistida, com
o conceito de arte que se coloca distante do público em uma caixa cênica,
inalcançável, intocável, longe dos “meros mortais” que não sabem dançar. A roda
gera aproximações, propõe encontro entre pessoas, suscita a criação de
vínculos. Se me dispus a compor a roda deixo de ser sozinho e faço parte de um
desenho circular agregador. Na roda danço a minha inteireza e coloco-me frente
ao outro-singular para dançar com ele. O contato corpo-a-corpo é estabelecido
sem pudor e limitações. Quebra-se com as formalidades e hierarquias impostas
pela dicotomia do que é certo e errado, do que está fora e dentro, do que pode
ou não pode, do que assiste e do que apresenta dança, celebra-se o encontro,
acolhe-se o que o outro tem a revelar no corpo, pois “o princípio da
circularidade na relação entre os seres, os tempos e as coisas, a
interconectividade do ethos ubuntu reforça esse princípio, afirmando a relação
comunitária que nos perpassa” (PETIT, 2015, p.123).
As
danças brasileiras sempre nos ensinam sobre as estéticas biocêntricas
desenhadas na roda das compartilhas, nas circularidades sagradas,
participativas e democráticas, e nos estimulam a pensar e produzir danças cênicas
que sejam nutridas por valores circulares, no sentido de conceber a dança
primeiramente como possibilidades de encontros e afetos, e que por sua vez
poderá se tornar obra de arte a ser apresentada como consequência desses
atravessamentos construídos/reconstruídos ao longo do tempo. O círculo dançante atravessado pelo paradigma biocêntrico não pode mais se
restringir a um discurso sobre determinado tema gerador, ele passa a ser
prática palpável e visível, ação geradora de transformação. Não há lugar para “falácias”
ou discursos demagógicos dentro da roda. Nas circularidades biocêntricas
somente há lugar para a efetivação das falas, dos conceitos e pensamentos. A
roda deverá ser o espaço criado pelas mãos, braços, olhares e afetos de
todos/as para proporcionar o cultivo da vida, dos princípios que defendem e
promovem a dignidade humana e o bem-viver planetário. Roda é sinônimo de ação
viva que se desenha em coletivo. Pois,
Esse
aprendizado mobiliza as pessoas para a transformação da teoria assimilada em
ações práticas, não ficando apenas na palavra sem consequência, no verbalismo.
É um espaço de potencialização da inteligência afetiva, que é muito mais
criadora e mobilizando o grupo para transformar informação em ação, de forma a
alcançar resultados com mais eficiência. (CAVALCANTE E GÓIS, 2015, p. 224).
O
círculo reativa a espiritualidade nas dimensões mais territoriais e cósmicas,
no sentido de que ela reconecta para o contato direto com o outro que está
próximo, o parente, o vizinho, o amigo, o colega de trabalho; revela e conclama
para a reflexão em torno da realidade local, instiga para uma possível
intervenção pedagógica valorizando o que cada contexto traz de potente enquanto
experiência humana, e ao mesmo tempo a roda materializa a dimensão planetária e
cósmica metaforizando os sistemas galácticos e suas complexas organizações.
Desenhar a roda é muito mais que pegar na mão de alguém que se encontra
presente, é uma sublimação gestual de nossa vocação enquanto seres integrais,
partes integrantes de uma ecologia bem mais ampla. Enquanto fazemos a roda nos
refazemos enquanto energias vitais do universo que se reintegram
harmoniosamente em diálogo e complementação, nos reapossamos de nossa
espiritualidade afro-indígena ancestral circular e reacendemos o desejo de
seguirmos juntos, agregados e integrados, percutindo e gerando em coletivo.
Na
história do Brasil não se criou escolas, academias ou universidades para que as
danças afro-brasileiras e indígenas ganhassem corpo e proporção social. Foi o
povo brasileiro que a gerou gradativamente, sem planejamento uniforme, pela
necessidade visceral de expandir movimento no mundo, pelo anseio de inventar
existências, perpetuar legados familiares, potencializar vínculos, celebrar os
ancestrais e reinventar possibilidades de vida comunitária. São danças geradas
e geridas por cada corpo na sua autonomia criativa, sem julgamentos ou
críticas, sem padrões fechados de códigos de movimento ou “corpos perfeitos”,
apropriados para tal. Trata-se de emancipações corpóreas que só se plenificam
com o livre exercício da criação e das relações que se estabelecem quando se
dança em grupo, acolhendo as diferenças e equidades, doando-se e acolhendo,
propondo e deixando-se guiar, cuidando e sendo cuidado.
O
que mobilizou e vem mobilizando a resistência dos oprimidos frente à opressão,
foi, sobretudo, o exercício do cuidado entre pares, a ajuda mútua, a prática da
solidariedade e cooperação. Nos quilombos, mucambos, favelas e terreiros as
danças afroancestrais e indígenas resistiram bravamente. Nesses lugares de
reinvenção cuidou-se com respeito e atenção dos mais velhos e mais novos,
transmitiu-se saberes do corpo por meio de oralidades, preservaram-se os
sentidos de ser e estar em irmandade mesmo em meio a perseguições e atrocidades
violentas provocadas pela colonização e escravidão. Esse ato de cuidar,
condição para se desenvolver e aprofundar a Inteligência afetiva proposta pela
Educação Biocêntrica, é um ato educacional e transformador que mobiliza e gera
vida:
A
maior vivencia do ser humano acontece quando ele consegue aprofundar seus
sentimentos manifestados no afeto e no cuidado trazendo consequente compromisso
com os outros e com o mundo. É o sentimento que nos faz sensível a tudo que nos
rodeia, nos envolvendo, nos emocionando e nos encantando com os nossos
semelhantes, com as plantas, com os animais e todas as manifestações da
natureza. (CAVALCANTE E GÓIS, 2015, p.133).
A
Cia Balé Baião busca experimentar possibilidades de danças cênicas engajadas
nesses fundamentos, sobretudo porque assume e defende a vida como bem maior a
ser cultivado e compartilhado em comunidade, nas circularidades cotidianas, em
rodas de ensino, criação e fruição artística integrando e mobilizando corpos
disponíveis para a experimentação.
Em
roda, no exercício generoso de dar e receber afetos, é possível cultivar
valores ancestrais que nos aprimoram enquanto seres espirituais, autônomos,
plurais e criativos, valores estes vistos pelas sociedades capitalistas como
ultrapassados, primitivos, inapropriados para os novos tempos globalizados que
exigem posturas funcionais, tecnicistas, práticas e objetivas. As rodas
dançantes edificam conhecimentos éticos, estéticos, emocionais e políticos que
se alicerçam na valorização do outro, na participação e contribuição efetiva de
todos os corpos que se fazem presentes, saberes que são transmitidos de geração
a geração nas circularidades familiares/comunitárias, dizeres, relatos,
histórias, experiências de vida que ensinam sobre bom senso, justiça, direitos
iguais, respeito, humildade, gentileza, generosidade, fé, esperança e
liberdade. Trata-se da inteligência afetiva que brota do senso de cuidado
planetário, do desejo de fazer do mundo a casa comum onde todos podem morar.
Com esse sentimento de atenção, delicadeza e compaixão, se desenvolve a
consciência crítica, o desejo de transformar as estruturas de morte em redes de
vida, brota o engajamento político, a militância em defesa da justiça e
dignidade humana. O paradigma biocêntrico nos convoca para o comprometimento e
luta social sem perder o exercício cotidiano dos afetos, a prática da ternura e
caricia fraternal:
Ao
cultivar em nós a afetividade, podemos com mais facilidade detectar as ações
doentias e nos enchermos de indignação diante, por exemplo, da discriminação
social, dos preconceitos contra os marginalizados, os deficientes, a repressão política,
o racismo e toda forma de injustiça que resulta em pessoas abandonadas vivendo
a mais absoluta miséria, muitas vezes presas e torturadas. A afetividade nos
deixa tocar o universo da consciência humana, nos tornando a voz dos excluídos
sonhando com um mundo de justiça e paz. (CAVALCANTE E GÓIS, 2015, p.133).
As danças cultivadas pelo Balé Baião, tanto nos processos de ensino-aprendizagem-desenvolvimento, como no âmbito da criação, montagem e apresentação de espetáculos, propõem-se a gerar ritos estéticos agregadores visando retirar o corpo de uma imobilidade isolada para que seja acolhido em um movimento circundante coletivizando experiências e saberes. Nas práticas de ensino/criação da companhia, os corpos/sujeitos assumem a postura de corpos integrantes/atuantes/dançantes, protagonistas de processos pedagógicos/criativos que se dão pela contribuição/intervenção de todos/as os/as dançarinos/as. Inevitavelmente esses corpos deixam de ser passivos e operam como instigadores de movimento, à proporção que se fazem presentes por inteiro e estabelecem relações afetivas/amorosas com os demais participantes fazendo a roda girar, impulsionando a mão, os pés, os olhares e respirações para que a ação coletiva se materialize e ganhe corpo no espaço, na sala de aula, no palco e na luta social.
A
prática de criação como emancipação do corpo político:
Quando assumimos em 2011 que nosso espaço
teria o nome de “Galpão da Cena”, pensamos em fazer desse local um ambiente de
pesquisa e criação artística onde o corpo cênico singular/coletivo, seria o
foco prioritário de experimentação estética, criação, compartilha e fruição
artística em conexão com os contextos diversos que compõem nosso território
interiorano. Nesse espaço nos fazemos experimentadores e criadores de danças
que tomam partido pelas pessoas que nele habitam, pelos corpos
negros-indígenas-periféricos, por suas histórias de vida, memórias afetivas,
ancestralidades, por suas expressões de resistência, luta e esperança.
Para a Cia Balé Baião e sua escola livre, o
exercício de criação (montagens inéditas de espetáculos, remontagens e
releituras), a produção de obras artísticas (espetáculos, performances,
interferências, instalações etc.) e o compartilhamento dessas produções com
públicos diversos em ambientes plurais (palco, rua, praça, escola pública,
universidade, assentamento rural, quilombo, etc.), são expressões de militância
estética/política que devem ser cultivadas e potencializadas em todos os
âmbitos possíveis. Criar/recriar, é subverter a ordem do que se impõe enquanto
realidade posta/imposta, suscitar autorais formas de presença e/ou presenças em
formas inéditas no mundo, convocar para realidades outras, olhares outros,
percepções outras, para além do consumo mercadológico, do entretenimento banal,
dos shows “fáceis” de assistir e “entender”.
E que cenas são emergentes ontem, hoje e
amanhã? O que criar, como, com quem e para quem?
Antes de tudo se faz necessário descolonizar o
pensamento sobre cena e sobre estar em cena. Trata-se muito mais de fazer-se
cena, de presentificação e conexão em tempo real. Para tanto é preciso romper
com o formato ocidental cristalizado de palco à italiana e redesenhar
ousadamente espaços de circularidade onde públicos, artistas e obras interajam,
dialoguem e celebrem. É fundamental ressignificar a cena oportunizando que ela
seja um acontecimento de vida, um ritual de encontro onde as presenças e afetos
sejam potencializadas, as bandeiras de lutas sejam erguidas e as injustiças
sociais denunciadas. Essa cena jamais será neutra e nunca vai compactuar com o
opressor.
Nesse contexto a cena também é anúncio e
convocação. Ela pode propor políticas de coexistência afirmando e dando
visibilidade ao corpo comunitário-coletivo como forma de viver no mundo. Nessa
proposta só existe cena se existe relação, se for possível instaurar a
experiência da conexão entre artistas-público-território. Na perspectiva de uma
cena descolonizada somos convocad@s a pensar no “Egbé”, palavra em yorubá
proveniente da Nigéria – África, que quer dizer: comunidade, composição
conjunta, existir juntos. Na cena que desejamos interessam estéticas e narrativas
de coexistência e cooperação.
A cena também pode ser um espaço propício de
interferência estético-pedagógica. O corpo cênico militante quebra silêncios e
proibições, ensaia e antecipa à nova sociedade em plena cena. Transmuta-se de
corpo oprimido para corpo consciente, de corpo submisso para corpo empoderado,
sujeito e protagonista de sua própria história.
Esse corpo cênico questiona, lança perguntas quase sempre sem respostas, provoca e convoca para sairmos da “cena” e fazermos da militância cotidiana a mais importante narrativa poética. Sim, a cena nos inquieta e empurra para assumirmos nossos territórios afetivos (famílias, trabalhos, religiões, movimentos sociais, escolas, universidades, empresas, associações, sindicatos, aldeias, pontos de cultura, etc.) como espaços propícios de composição, experimentação e compartilha poética. No entanto se faz necessário engajamento e inserção cotidiana. A cena edifica sua verdade quando se alicerça na realidade vivida dia a dia. Não se trata de “encenação”, mas de “presentificação” e/ou “estado de presença”, de corpos que testemunham visceralmente suas angustias, inquietações, emergências e implicações encontradas no cotidiano. Imbricados na conjuntura encontraremos o material para compor, as inspirações e atravessamentos estéticos, as narrativas que de fato nos importam dançar em coletivo.
Objetivo geral:
Desenvolver
capacitações livres e continuadas em artes do corpo, especificamente dança,
audiovisual, música e literatura, por meio de pedagogias decoloniais e
libertárias, metodologias transdisciplinares e práticas de criação coletiva,
contemplando jovens e adultos residentes na periferia do município de
Itapipoca, assentamentos, quilombolas, indígenas, distritos e cidades vizinhas
do Litoral Oeste e Vale do Curu, visando contribuir com a formação sócio-artístico-cultural
de artistas, lideranças e arte-educadores atuantes no interior cearense.
Objetivos específicos:
- Oferecer práticas técnicas e teóricas de
danças, audiovisual, musicalidade e literatura vislumbrando o aprofundamento e
ampliação de conhecimentos nessas áreas;
- Colaborar com a formação
artístico-pedagógica de agentes multiplicadores, lideranças de grupos,
arte-educadores e afins;
- Proporcionar vivências holísticas e
transdisciplinares que contribuam com o desenvolvimento afetivo, espiritual e
intuitivo dos participantes do curso;
- Gerar processos de pesquisa, criação e
compartilha de obras artísticas junto à comunidade;
- Produzir eventos (mostras, festivais, feiras, instalações, exposições etc) de forma remota e presencial integrando cursistas, artistas docentes, comunidade e público em geral;
Resultados esperados:
- Fortalecimento e
manutenção das atividades sócio-culturais desenvolvidas no território do Vale
do Curu/Litoral Oeste, tais como processos de pesquisa e criação artística,
exposições, festivais, oficinas, etc, colaborando com subsídios
técnicos/práticos que possam atender a essas demandas locais;
-
Integração e compartilha de experiências entre agentes culturais, artistas,
estudantes, acadêmicos e arte-educadores atuantes em espaços distintos, tais
como escolas públicas, associações culturais, universidades, projetos sociais,
religiões, movimentos sociais, dentre outros, visando atualizar conhecimentos e
criar redes de mobilização cultural nas suas diversas vertentes;
-
Produção de pesquisas acadêmicas e monografias fundamentadas nas temáticas
oferecidas pelo curso;
-
Produção de obras artísticas que estarão à disposição da FACEDI/UECE para compor
programações culturais e científicas.
Público contemplado:
Desde
sua fundação na década de noventa, a Cia Balé Baião estabelece relações,
vínculos e conexões com as juventudes periféricas e ao mesmo tempo com lideranças
comunitárias atuantes nos interiores. Essa integração entre territórios urbanos
e rurais vem possibilitando a edificação de processos potentes de
ensino-aprendizagem, criação e fruição artística. Descobre-se com essa
integração geográfica que existem territórios comuns entre a juventude agrária
e urbana, sobretudo o anseio pela dança, o desejo de construir conhecimento em
coletividade, a afirmação das identidades negras e indígenas e a necessidade de
edificar projetos de vida numa perspectiva profissional, afetiva e social.
A
Escola Livre Balé Baião se identifica e assume um compromisso ativista com a
causa das juventudes negras, LGBTQI+, estudantis, agrárias e periféricas, e compreende
que a dança, a fotografia, o cinema, a música e produção literária, são
expressões legitimas de resistência, afirmação e reinvenção dessas juventudes
em meio a contextos de extermínio, homofobia e racismo que atingem
violentamente esses públicos.
A
outra demanda priorizada pela Escola livre Balé Baião é formada por adultos,
sobretudo por professores, arte-educadores e lideranças comunitárias;
profissionais que trazem experiências de vida marcadas pela negação do corpo e
da própria dança, em detrimento do trabalho, da luta diária pela sobrevivência,
e da própria baixa-estima por não conhecerem, aceitarem e expandirem seus corpos
enquanto potências de vida. Na Escola livre Balé Baião os adultos cursistas são
motivados e conduzidos a reativaram suas subjetividades e por consequência,
potencializaram suas expressividades artísticas.
A
presença e participação de adultos na escola livre junto com as juventudes,
gera uma mutua relação de ensino-aprendizagem-desenvolvimento onde todes
assumem posturas de aprendizes e mestres pelo exercício do respeito, da escuta
atenta, da compartilha de saberes de ontem e hoje, e finalmente, da prática
colaborativa exigida dentro dos processos de criação. O desenho pedagógico que
constitui a integração dessas gerações é espiralado e circular, includente,
democrático e participativo. É roda ancestral e contemporânea que gira, acolhe,
agrega e flui.
Princípios metodológicos:
As
práticas metodológicas desenvolvidas pela Cia Balé Baião em sua escola livre,
possuem como raiz a sua inserção histórica nos movimentos populares e
comunitários, alicerçada nos princípios da Pedagogia do Oprimido de Paulo
Freire e nas cosmovisões indígenas e africanas. Essas bases alicerçam os processos
de preparação corporal e composição coreográfica da Cia Balé Baião, e por sua
vez atravessam os anseios e estratégias metodológicas aplicadas na sua escola
livre numa perspectiva educacional.
A
metodologia chamada de “baião dos saberes” se propõe antes de tudo estabelecer
dialéticas afetivas entre professores, alunos e públicos distintos. Os
processos de composição em dança deverão ser consequência da compartilhas de
saberes, mediados pelo/a artista docente ao longo das aulas/vivências, nos
treinamentos técnicos e nas rodas de avaliação. Muito mais que um “resultado”
ou “produto resultante” a ser mostrado no final do curso, interessa para a Escola
livre Balé Baião potencializar o protagonismo e as autonomias criativas dos
seus alunes no dia-a-dia das suas aulas-vivências.
Na
mira dessas autonomias do corpo expressivo a escola livre oferece ritos, jogos,
exercícios e treinos que dão acesso a códigos, motrizes e técnicas de dança, e
ao mesmo tempo a oportunidade de exercitar a liberdade autoral para ressignificar,
reler e reconfigurar esses aprendizados assimilados, valorizando a intuição, o
improviso e as capacidades inventivas dos corpos nas suas singularidades e
particularidades.
Os
artistas docentes que compõem a equipe de oficineiros(as) e facilitadores(as)
da escola livre, comungam da possibilidade de contribuírem com uma formação artística
que por sua vez, motive e favoreça os/as cursistas para práticas inventivas e
autorais, afirmando de maneira concreta que a técnica existe para contribuir
com a expansão sensorial-expressiva do artista e não para atrofiar, castrar e
muito menos moldar corpos e desejos.
À
proporção que se treina um giro padrão, próprio da Dança Moderna em centros,
diagonais etc, também se convida o alune para experimentar e mostrar outras possíveis
formas de giros tendo como base o código repassado. Busca-se com esse exercício
eliminar a prática da execução e replicação do “passo” para dar lugar a
práticas de experimentação, descoberta e criação consciente.
Numa
perspectiva de danças inclusivas e libertárias, devem-se dar condições para que
os alunes possam antes de tudo conhecer-se, perceber-se e valorizar-se enquanto
seres únicos, singulares e protagonistas de suas próprias histórias. Em
seguida, que possam aprender e cultivar valores da vida comunitária, os
sentidos da cooperação, do trabalho conjunto, a importância de Estar e Ser com
os Outros, em relação com os outros, experimentando seus afetos, construindo
éticas de convívio a partir do acolhimento e respeito às diferenças, celebrando
a pluralidade e fortalecendo a equidade.
Sem
essas premissas éticas, chamadas pela escola livre de: “formação sócio afetiva”,
os alunes da Escola livre Balé Baião não terão subsídios para desenvolver
práticas de dança comunitária, e inevitavelmente, serão reféns de ideologias
impostas pelas mídias neoliberais alicerçadas na competitividade, no egocentrismo
e omissão para com a vida planetária.
Outra
prática crucial nos processos de ensino-aprendizagem da Escola livre Balé Baião
é o exercício das oralidades. O artista consciente de si e da sua atuação no
mundo desenvolve a capacidade de discursar sobre suas práticas com apropriação
e honestidade. As capacidades cognitivas do corpo ganham amplitude quando
organizadas por meio de palavras, frases, textos, questionamentos, críticas,
análises, escutas e discursos. Pensar em corpo consciente, danças autônomas e
libertárias, exige que façamos valer práticas de reflexão e discussão
continuadas sobre nossos fazeres e modos de operar, proporcionando a
convergência, a divergência e a confluência de ideias.
Nessa
perspectiva a Escola livre Balé Baião adota em suas aulas as “rodas de cultura”
idealizadas por Paulo Freire, possibilitando que todes possam trazer suas
falas/escutas sob mediação dos artistas docentes e coordenação pedagógica. A
cada final de aula os alunes são motivados a comentar sobre suas descobertas,
dificuldades, inquietações, medos, superações, etc, falando em primeira pessoa.
Essas falas deverão ser registradas em diário-de-bordo vislumbrando a organização
de textos livres que irão compor possíveis publicações da turma.
As
aulas-vivências desenvolvidas pela Escola livre Balé Baião se configuram na
guia do seguinte roteiro:
- Ritual de
acolhimento;
- Alongamentos,
exercícios de respiração e correção postural;
- Aquecimento
muscular e expansão energética;
- Vivencia e
treino de técnicas, códigos e motrizes artísticas;
- Desconstrução
e reconfiguração dos códigos trabalhados por meio de exercícios de
improvisação de forma individual e coletiva;
- Práticas de
criação e compartilha de produções em plenárias;
- Roda de
cultura: análise e avaliação compartilhada sobre as vivências do dia.
Critérios
para participar do curso:
- Ter idade entre 15 e 40 anos;
- Residir e/ou atuar nas periferias de
Itapipoca, distritos, assentamentos, comunidades quilombolas, territórios
indígenas ou cidades pertencentes à região do Litoral Oeste/ Vale do Curu;
- Disponibilidade para participar
efetivamente das aulas semanais (presenciais e remotas);
- Experiências básicas nas áreas de dança,
audiovisual, música e/ou literatura;
- Experiências de participação em grupos e
coletivos;
- Experiência de liderança de grupo e
coletivos;
- Experiências de ensino em escola pública,
privada e/ou entidade cultural.
Participantes
prioritários:
- Pessoas de baixa-renda;
- Residentes em periferias;
- Residentes em território rural;
- Pessoas que se assumam negras ou pardas;
- Indígenas;
- Mulheres;
- Comunidade LGBTQIA+;
- Acadêmicos da Facedi/UECE;
- Professoras/professores de
arte-educação.
Seleção
dos cursistas:
O processo de seleção dos novos alunes da
Escola livre Balé Baião acontece através de uma audição publica onde os
candidatos participam de uma oficina corporal conduzida por professores da Escola
Livre Balé Baião com o intuito de avaliar as seguintes habilidades:
1.
Atenção, concentração e disponibilidade;
2.
Expressividade e comunicação;
3.
Criatividade e autonomia;
4.
Sensibilidade e intuição;
5.
Integração no coletivo (envolvimento
grupal).
Após a oficina abre-se uma roda de diálogo
onde cada candidato verbaliza sua própria avaliação a partir das sensações,
dificuldades e superações encontradas no decorrer das práticas propostas. Numa
segunda rodada de falas cada pessoa expressa seus objetivos e metas em
participar do curso.
No final, os professores e coordenação
pedagógica comentam de maneira sintética sobre as percepções que tiveram da
turma, enfatizando suas potências, lançando críticas e sugestões para
melhoramentos futuros.
No dia seguinte a coordenação pedagógica
juntamente com artistas docentes da Cia Balé Baião elege os nomes dos
selecionados para compor a turma oficial e divulga a lista nas redes sociais.
Turma
única:
Formação de uma turma anual composta por
20 participantes e mais 05 suplentes;
Aulas-vivências
e carga/horária:
Dois encontros semanais no período de sete
(07) meses:
- Sábados: Encontro presencial no Galpão
da Cena (desenvolvimento de atividades práticas) aos sábados, de 13h as 17hs
(4hs/aula);
- Quartas-feiras: Encontro híbrido/remoto/presencial
(atividades teóricas) de 19h as 21hs (3hs/aula).
- Previsão de meses: junho a dezembro do
corrente ano;
- Total mensal de carga/horário por
módulo/mês: 28 horas/aula;
- Total geral da carga/horária do curso: 196 horas/aula.
Conteúdos oficiais:
1°
mês: MÓDULO – “POTÊNCIAS DO CORPO SINGULAR”
- Introdução ao curso: memórias
históricas, princípios e perspectivas da Balé Baião;
- Vivências na área de consciência
corporal, respiração, correção postural e alongamento;
- Práticas socioemocionais: sentidos,
relações afetivas e espiritualidade;
- Estudos sobre soberania alimentar,
biodiversidade e consciência planetária: cosmologias do corpo.
2° mês: MÓDULO – “NARRATIVAS ANCESTRAIS DO CORPO”
- Cosmopercepção, mitologia e oralidades indígenas;
- Danças e ritualidades indígenas;
- Cosmopercepção, mitologia e oralidades afro-brasileira;
- Danças negras brasileiras.
3° mês: MÓDULO – “MEMÓRIA, RESISTÊNCIA E REINVENÇÃO POPULAR”
- Musicalidades afro-indígenas ancestrais;
- Cultura popular e Danças tradicionais
cearenses;
- Contação de histórias e teatro popular;
- Oralidades de ontem e hoje: do cordel ao
rap.
4° mês: MÓDULO – “MIDIAS, DANÇAS E POÉTICAS VIGENTES”
- Oralidades urbanas e danças periféricas;
- Bases da dança moderna: qualidades do
movimento, espaço e níveis do corpo;
- Conexões entre corpo e fotografia;
- Conexões entre corpo e vídeo.
5° mês: MÓDULO – “TREINOS, JOGOS E RITOS PARA DANÇAS COLETIVAS”
- Dança contemporânea: fundamentos da Balé
Baião – Exercícios de preparação corporal para solos, duplas e grupos;
- Fundamentos da Balé Baião – Treinamentos
de códigos e motrizes de movimentação corporal;
- Fundamentos da Balé Baião – Verbos de
ação, temas-geradores e improviso em tempo real;
- Fundamentos da Balé Baião – Oralidanças
do corpo: práticas de composição integrando palavra, movimento e sonoridades.
6° mês: MÓDULO – “EXPERIMENTAÇÃO E CRIAÇÃO ARTÍSTICA”
Laboratório de criação integrando as
linguagens dança, música, artes audiovisuais e literatura.
- Concepção da obra: temáticas, narrativas
e dramaturgias a serem assumidas na composição;
- Experimentações e decodificação de
material cênico.
7° mês: MÓDULO – “ESTREIA E COMPARTILHA DA OBRA”
- Ensaios fechados;
- Ensaios abertos;
- Estreia da obra coletiva: culminância e
encerramento do curso.
Atividades de leitura e escrita:
01.
Sala de leitura:
Atualmente a Escola livre Balé Baião
oferece para seus alunes um acervo de livros diversos que compõe a sala de
leitura do Galpão da Cena. Em parceria com a Secretaria Estadual da Cultura
(SECULT) por meio do edital “Escolas livres da Cultura”, fizemos a catalogação
e compra de importantes livros nas áreas de dança, teatro, artes plásticas,
artes audiovisuais, circo, performance arte, música, poesia, literatura, moda,
história das artes, educação e ensino, filosofia, sociologia, mitologia
africana e indígena, cultura popular brasileira, artes urbanas, agroecologia,
soberania alimentar, espiritualidades ancestrais, feminismos, cultura LGBTQI+, racismo
estrutural, conjuntura política, direitos das juventudes, direitos humanos,
dentre outros.
Mensalmente
os alunes são motivados pela coordenação pedagógica a selecionar entre 01 e 02
livros para ler em casa e trazer questões a serem discutidas, refletidas e
analisadas nas aulas-vivências. A pretensão é instigar possibilidades de
leitura e releitura do mundo a partir dos livros oferecidos, proporcionando
gradativamente o habito do estudo individual e coletivo, o exercício de
organização do pensamento e do discurso teórico fundamentado, em confluência
com as práticas artísticas geradas nas aulas semanais.
02.
Diário-de-bordo:
No início do ano letivo cada alune recebe um
caderno personalizado para que seja usado como diário-de-bordo por nós chamado
de: “Livro de cada um”. A cada final de aula-vivência é deliberado um tempo
extra para que todos possam fazer suas anotações, relatos, descrições,
comentários, desenhos, poesias etc, como forma de registro livre dos
acontecimentos e experiências cultivadas nos encontros ao longo do ano. Essas
escritas deverão ser construídas mensalmente de forma individual.
Na etapa final do curso os alunes construirão
seus relatórios finais a partir dos registros acumulados nos livros. Os
relatórios deverão ser digitados e lidos em plenária com a participação de toda
a turma e as considerações finais da coordenação pedagógica.
A construção do Diário-de-bordo e a
produção do relatório final é atividade obrigatória que possibilita a avaliação
final do alune no curso.
Avaliação mensal:
No final de cada módulo a turma será conduzida pela coordenação pedagógica a avaliar os seguintes pontos:
- Participação e rendimento nas
aulas-vivências;
- Dificuldades e superações;
- Colaboração dos professores/facilitadores;
- Sugestões para melhoramento das
aulas/vivências.
Cada cursista desenvolverá sua autoavaliação
escrevendo em diário-de-bordo e compartilhando com a turma na roda de diálogos,
encerramento com a fala do professor/facilitador que atuou no mês apresentando
suas considerações finais sobre a turma. Cada professor/facilitador apresentará
para a coordenação pedagógica um relatório final sobre a turma, com impressões
e análises de suas descobertas, desafios, superações etc. Essas escritas irão
compor um dossiê de avaliação global da turma no final do ano letivo.
Avaliação
final – Criação de obra coletiva:
O curso tem sua culminância com a produção
e mostra coletiva de uma obra artística que agregue as linguagens e temáticas
abordadas no decorrer do ano, exemplos: espetáculo cênico, exposição
fotográfica, produção e mostra de um vídeo performático, a publicação de um
livro e/ou revista, um show musical autoral, entre outras possibilidades que
serão definidas no decorrer do ano letivo.
O processo de criação e mostra da obra
coletiva são as atividades conclusivas do curso, portanto obrigatórias.
Gerson Moreno
Coordenador pedagógico
REFERÊNCIAS
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Expressão Gráfica e Editora, 2015.
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OLIVEIRA,
Eduardo David de. Cosmovisão Africana no
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Gráfica Popular, 2006.
PETIT,
Sandra Haydée. Pretagogia:
pertencimento, corpo-dança afroancestral e tradição oral africana na formação
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RODRIGUES,
Graziela Estela Fonseca. Bailarino-intérprete-criador:
processo de formação. Rio de Janeiro,
EDITORA, 1997.
SODRÉ,
Muniz. O terreiro e a cidade: a
força social negro-brasileira. Rio de Janeiro: Editora Vozes Ltda, 1988.
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